Velhos hábitos

Diz-se que Janeiro é o mês mais longo do ano, por muitas razões. 

Para começar, não há conta bancária que não se ressinta do rombo magistral de prendas e jantares de Natal. Há ainda muitas empresas optam por pagar o ordenado de Dezembro mesmo antes do Natal, para fecharem as contas, e o ano - logo, fica a sensação de que há muito mais dias até ao próximo vencimento.

Para muitos, é um longo mês de marmitas de atum com esparguete, ou só mesmo massa. 
Mas pense positivo, estava mesmo a precisar de um detox depois de todo aquele peru, bacalhau e doces que nunca mais acabam. 
Está na altura de se familiarizar com as promoções dos supermercados, os cupões, a fruta menos bonita que se vende na secção  do self discount no Auchan a preços mais apelativos. 


Vai aprender a aproveitar talos de bróculos para usar na sopa, sobras de carne em empadões, e vai passar a postar fotos dos jantares no Instagram com um filtro vintage (#talqualodaminhamãe).



Viva de água com sabores e chás, mas dos que faz em casa com casca de limão e paus de canela, que dá um ar mais bio (e barato) á coisa do que andar a beber aquelas caríssimas águas vitaminadas do Luso. 
Há sempre uma colega no escritório que vende Tupperware, cujas garrafas além de giras são reutilizáveis. Lembre-se porém de as lavar frequentemente com um escovilhão, toda aquela fruta e chás soluvéis vão deixando vestígios.



A coisa agrava-se com a chegada dos saldos, e com aquela sensação de que precisamos mesmo mesmo mesmo daquela saia de lurex dourada que teria sido perfeita para a passagem de ano. Tendemos ainda para comprar tamanhos abaixo, pensando que com um boa dieta e exercício rapidamente lá chegará - normalmente acaba pendurado no armário até á eternidade. 
Dê a volta ao assunto, evite frequentar shoppings atulhados de gente a lutar pelos últimos leggings tigresse da Tezenis. Se não resiste, faça um mini-raid na sua hora de almoço, costuma haver menos confusão. 

Mesmo assim, uma vez no Lidl encontrei uns casacos a €2 para crianças, que me prontifiquei a levar para as filhas de uma amiga minha. Entre agarrar no telefone para confirmar o tamanho e voltar os olhos para o cesto para encontrar o tamanho certo, uma vaga de gente apossou-se de duas dezenas de casacos e uma senhora de idade puxava discretamente o que eu já tinha debaixo do braço, "só para ver a qualidade", dizia ela.
Ninguém nos paga para isto, pois não? Então não se preocupe. 
Há imensos outlets onde estas sobras vão parar, muitas lojas já têm cantos de promoções onde pode sempre dar uma vista de olhos.  Mas se vir uma tshirt de €1,5, não hesite. A menos que tenha 50 pessoas na fila. Use o €1.5 e vá tomar um cafezinho.

As pessoas que não estão nos saldos a batalhar, estão no ginásio a combater as calorias. Sabido é que toda a gente corre a inscrever-se em Janeiro, com aquela velha promessa de que agora é que vai ser, roídos pela consciência pesada de doces.
Ditam as leis da natureza comercial que os ginásios aproveitam logo para fazer promoções, oferecer PT ao preço da chuva e anunciar planos de alimentação aos quatro ventos. Preste atenção, ainda acaba com uma fidelização de 24 meses e com um PT raivoso a enviar-lhe emails a perguntar porque faltou ao treino para ir ver o jogo qualquer da Champions.  

Quer treinar? Comece em casa, procure os videos dos workouts do Insanity e faça o teste. Passe pelo Youtube, ou aproveite o Wii Fit.
Tente durante uns dias.Vai ver que Janeiro passa, você fica em forma (versão low cost) e a sua carteira não será (ainda) mais abalada. 
E quase, quase, que vai conseguir vestir o raio da saia dourada de lurex. Mas depois vai perceber que não tem grande coisa para lhe por em cima, e vai desistir rapidamente.

Janeiro é também o mês em que TODA a gente decide andar de transportes públicos - o dinheiro não estica, o preço da gasolina não baixa, e há que tomar medidas. Fazer a linha de Sintra em hora de ponta, de lancheira a tiracolo é sem dúvida um desafio. Ponha os fones, ouça um bom podcast e deixe-se ir. Pode também evitar horas de ponta (se tiver flexibilidade de horário) e pode mesmo ter a sorte de apanhar um lugar sentado e aproveitar para ler um livro (daqueles grátis, requisitados na biblioteca). E quando os viciados da estrada voltarem a ter dinheiro para gasolina (aqueles 15 dias entre o receber do ordenado e o acabar do mesmo), o comboio até vai parecer tranquilo. 

Finalmente, aproveite os dias miseráveis e cinzentos em que tem de ficar em casa para destralhar.
Limpe vestígios do Natal, coisas que já não usa, doe roupa que não precisa.
Leve os restos de bolos para o trabalho, como quem não quer a coisa.